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BIOGRAFIA DE JULIO VALVERDE

Nascido na cidade de Salvador (BA) em 1944, Julio Valverde teve desde cedo um contato muito próximo com a música: sua mãe e avó eram pianistas, e seu pai um aficionado por ópera. Apesar da proximidade com o repertório da música erudita na infância e adolescência, a educação musical de Julio se deu de maneira mais intensa nas rodas de batucada promovidas pelo bloco carnavalesco que desfilava em sua rua, no bairro do Tororó. Nessas ocasiões, pôde aprender o repertório tradicional do cancioneiro baiano e se familiarizar com gêneros como samba, chula e ijexá, os quais se tornariam a matéria-prima de seu futuro trabalho como compositor.

O percurso de Julio Valverde é marcado por uma série de rupturas – fruto de um espírito sempre inquieto. Em 1967, ingressou no curso de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no qual ficaria somente por seis meses. Pouco tempo depois, decide tentar ganhar a vida na Europa, onde ficaria por três anos (1968-1971). Nesse período, viveu na França (Paris e Toulouse), em Portugal (Lisboa e Algés) e na Alemanha (Colônia) trabalhando em empregos variados, tais como faxineiro, descarregador de trem de carga e maquetista em um escritório de construção. Foi ainda nesse período que aprendeu de maneira autodidata os primeiros acordes no violão, instrumento com o qual se identificaria plenamente. De volta ao Brasil, Julio levaria mais de 10 anos para formar-se no curso de Arquitetura, em 1983. Após um período vivido no sertão baiano, no município de Jaguarari, Julio Valverde e sua família se mudam para São Paulo em 1986. Nesses primeiros anos na nova cidade, adquire o hábito de promover encontros gastronômicos em sua casa, nos quais prepara pratos tradicionais baianos a seus familiares e amigos próximos. A partir dessa prática, decide abandonar a carreira de arquiteto e funda em 1995 o seu próprio restaurante, o Soteropolitano. Mais do que uma resposta a sentimentos de nostalgia, a fundação do Soteropolitano e a recriação das manifestações da Bahia foram partes fundamentais de um processo de afirmação de uma identidade baiana, necessária para um marcar uma posição na metrópole paulista.

Desde os seus primeiros dias, o restaurante foi objeto de matérias elogiosas em diversos meios de comunicação, como a intitulada "Soteropolitano mostra o sabor da Bahia", publicada em 02 de agosto de 1996 na Folha de São Paulo (disponível em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/8/02/ilustrada/15.html). No entanto, a excepcionalidade do Soteropolitano não se deve somente aos dotes culinários de Julio Valverde. Uma característica marcante do restaurante é o fato de ele não se limitar à função de preparo e comércio de refeições: em primeiro lugar, foi a partir da fundação do Soteropolitano que ele descobriu a arte de compor. Como afirmou o compositor em entrevista a Yuri Prado, “o Soteropolitano passou a ser minha vida. Eu sempre rompi com compromissos, mas aqui não, aqui eu não rompi. E isso fez com que eu tivesse o maior achado da vida, que foi descobrir que eu sabia compor. Porque isso traz uma felicidade muito intensa. Você tem uma música produzida, seja boa ou ruim, mas é uma composição, é uma obra. E a felicidade é saber que eu fiz, eu compus, e poder apresentar para as pessoas”.

No início, suas composições foram destinadas ao bloco carnavalesco Vai Quem Quer, da cidade de Angatuba (SP); posteriormente, passa a colocar melodias em poemas de clientes do restaurante, tais como Fabricio Corsaletti, Alexandre Barbosa, Karmo, além de sua própria filha Juliana. Ao longo dos anos, sua produção musical, que atualmente conta com mais de 150 composições, foi conquistando cada vez mais admiradores, sendo registrada em álbuns de artistas como o grupo instrumental Zarabatana, o grupo de choro Naquele Tempo, a banda de samba-rock Pau d’Água, o octeto instrumental Ôctôctô, a cantora Bia Góes, além dos seus filhos Guilherme Valverde (violonista e cantor) e Ricardo Valverde (vibrafonista). Em 2012, foi convidado pela Rádio Cultura FM de São Paulo para participar do programa Microfone Aberto, onde apresentou um panorama de sua carreira (http://culturabrasil.cmais.com.br/especiais/julio-valverdemicrofone-aberto).

A partir de março de 2020, tendo em vista a pandemia de Covid-19 e levando em conta o fato de Julio Valverde ser do grupo de risco (idoso com mais de 70 anos), o Soteropolitano passou a abrir somente aos domingos com pedidos de entrega em domicílio. Durante todo o ano de 2020, o restaurante continuou trabalhando dessa maneira, resistindo bravamente para não fechar suas portas. Entretanto, com a drástica diminuição de sua renda, Julio Valverde se viu forçado a romper o contrato de aluguel com o espaço que abrigava o Soteropolitano e passou a cozinhar em sua própria casa, tendo o apoio logístico de membros de sua própria família, como mostra a matéria “Restaurante Soteropolitano faz reviravolta para resistir à pandemia”, publicada na Folha de São Paulo em 14 de junho de 2021 (https://www1.folha.uol.com.br/comida/2021/06/restaurante-soteropolitano-fazreviravolta-para-resistir-a-pandemia.shtml). Desde então, Julio tem continuado a trabalhar dessa forma, não somente para seu sustento, mas também pela paixão pelo ato de cozinhar e pelo Soteropolitano como projeto de vida.

Ainda em 2020, a vida e obra de Julio Valverde se tornaram tema da pesquisa de pósdoutorado “Eu faço o meu tempo: etnografia do fazer musical íntimo”, realizada por Yuri Prado no Departamento de Antropologia da FFLCH-USP (https://antropologia.fflch.usp.br/node/1459). No mesmo ano, por conta de sua atuação como compositor e fomentador cultural, Julio Valverde foi reconhecido como mestre de cultura e guardião da memória e da cultura de história tradição oral pela 1ª Edição do Prêmio Aldir Blanc de Apoio à Cultura na Cidade de São Paulo (2020). Em 2021, o compositor se tornou o protagonista do documentário "Dois Irmãos", dirigido por Yuri Prado e produzido pelo Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA) da USP, e que aborda o Caruru de Cosme e Damião promovido por Julio Valverde e sua família no Soteropolitano (https://lisa.fflch.usp.br/node/12862).

Em 2022, Julio Valverde foi contemplado com o financiamento, pelo Programa de Ação

Cultural (ProAc) do Estado de São Paulo, da gravação de um álbum inteiramente dedicado às suas composições, tendo o próprio Julio Valverde como intérprete, além do grupo Ôctôctô, de seus filhos Juliana, Ricardo e Guilherme, e de sua neta Bianca. O álbum está atualmente em fase de pós-produção e seu lançamento está previsto para o mês de setembro de 2023. Para o ano de 2024, quando completará 80 anos, está previsto o lançamento de uma série de produtos artísticos sob o título de “Eu faço o meu tempo”, abarcando um novo documentário dirigido por Yuri Prado, uma autobiografia em formato de livro, e um álbum interpretado pelo próprio Julio Valverde.

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